Em sua delação premiada, Lúcio Bolonha Funaro, apontado como operador de políticos do PMDB em esquemas de desvio de dinheiro público, relatou situações em que houve problemas entre o presidente Michel Temer e aliados. Entre eles, o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi e presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Em 2011, quando Temer era vice-presidente, Rossi deixou o Ministério da Agricultura em meio a suspeitas de irregularidades. Funaro relatou que o empresário Joesley Batista, do frigorífico JBS, “afirmou que Rossi reclamou de Temer, uma vez que, quando precisava se segurar no Ministério da Agricultura, Temer não se mexeu”. O delator também afirmou ter certeza de que “parcela da propina paga a Wagner Rossi era redistribuída a Michel”.
No ano seguinte, porém, houve uma compensação. Segundo Funaro, por interferência de Temer, a campanha de Gabriel Chalita, candidato a prefeito de São Paulo pelo PMDB, contratou a produtora do filho de Wagner Rossi. Segundo o termo de depoimento, Funaro “entende que a contratação da empresa foi uma compensação pela perda do cargo”.
De acordo com o delator, a campanha de Chalita recebeu recursos de caixa a dois a pedido de Temer. Funaro disse também que o presidente pediu doações não contabilizadas em 2014 para a campanha de Paulo Skaf, candidato do PMDB ao governo de São Paulo.
Funaro relatou outro momento em que não houve harmonia entre os peemedebistas: no começo de 2015, quando Cunha se elegeu presidente da Câmara e Temer era vice-presidente. Segundo o termo de depoimento, Temer ficou “enciumado pelo poder do deputado Cunha” e “diminuiu o contato com ele”.
Na delação, Funaro também citou um amigo de Temer, o coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo João Baptista Lima Filho, mas, nesse caso, não há relato de divergências. O delator disse que Temer conseguia contratos para empresa de Coronel Lima, como ele era conhecido, inclusive nas obras da usina nuclear localizada em Angra dos Reis (RJ). De acordo com Funaro, a empresa não tinha porte para assumir uma obra desse tamanho.
O GLOBO procurou a assessoria de imprensa do Planalto para obter uma manifestação de Temer sobre a delação, mas a orientação foi falar com a defesa do presidente. O GLOBO não conseguiu entrar em contato com a o advogado de Temer. Também não foram localizados os advogados de Cunha, Coronel Lima, Wagner Rossi e Gabriel Chalita. Na semana passada, Temer desqualificou trechos da delação de Funaro que já haviam se tornado públicas.
Temer ficou “enciumado pelo poder do deputado Cunha”, diz Funaro
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